Réquiem para Alexandre Brum, vulgo Bola Sete.

Alexandre Brum 1958 – 2019

Sou uma pessoa de poucos amigos é meu jeito, sou reservado, complicado e penso que é ok ser assim, e depois, acostumei-me ao isolamento e vivo bem dessa forma. Ontem (31/07/19) um amigo partiu. Não tive com ele histórias de amigos que vivem uma vida inteira juntos. A considerar o tempo que andamos afastados, poder-se-ia dizer que amigos tem um laço afetivo muito mais estreito do que tivemos, mas em algum momento de minha vida, isto transcendeu. A mesma relação tenho com outros verdadeiros amigos.

Alexandre Brum seu nome, Bola Sete era como a maioria o chamava. Conheci-o criança, éramos quase vizinhos, morávamos em ruas paralelas, encurtadas por um terreno baldio que unia uma rua a outra. Na rua onde ele morava com seus pais e sua irmã, havia um bar de secos e molhados, ficava quase ao lado de sua casa. Não recordo exatamente como tudo começou, erámos crianças, mas muito provavelmente foi por causa do bar, além disso éramos sócios do Caixeiros Viajantes, um clube social da minha cidade, logo nos conhecemos e ficamos amigos.

Ia em sua casa quase todos os dias, era tão da família que tinha acesso livre e entrava pela porta dos fundos sem sequer bater, bastava puxar a cordinha que liberava a trava da porta e entrava pela cozinha, era a minha segunda casa. Já naqueles tempos o via com curiosidade e uma certa admiração. Fazia o que lhe dava vontade, não que eu não pudesse, mas sempre fui comedido, o Bola não era. Seu quarto tinha o teto repleto de bolinhas de papel. Ele deitado na cama, eu sentado em uma cadeira, entre uma conversa e outra ele lançava as bolinhas de papel que mascava, com um tubo de caneta bic, tal qual uma zarabatana.

Seus pais eram pessoas admiráveis, tenho deles várias lembranças. Sua mãe conseguiu vaga para que eu estudasse no colégio estadual Júlio de Castilhos, um desejo adolescente que realizei, quis o destino, seja lá como chamam isto, que minhas tentativas de educar-me não resultasse em coisa alguma, no entanto os três anos que frequentei o colégio mudaram a minha visão de mundo. Conheci diversas pessoas, algumas continuam fazendo parte de minha vida, ainda que distantes.

O Alexandre também foi aluno do Julinho, um dos motivos que fizeram com que desejasse estudar lá. O Bola estava em todas; festas, bailes, grêmio estudantil, trabalhei com ele em alguns eventos fazendo projeções de slides em bailes. Frequentei o clube do professor gaúcho, levado por sua mãe, carnavais no Caixeiros, baile dos magrinhos, a piscina do clube onde ele dava saltos “ornamentais”, estilo próprio. Ele também me visitava, um tanto desajeitado, tinha talento para acidentes domésticos. Acampamos juntos, bebemos todas, fumamos muito, ouvíamos muita música. Perdi o contato quando ele começou a trabalhar como funcionário público. Eventualmente cruzávamos pela cidade.

O que sei dele e o que compartilhamos daria para escrever um pequeno livro. Nos últimos anos nos aproximamos novamente. Falávamos por mensageiros, eventuais ligações, prestei serviços profissionais para ele, e saímos algumas vezes.

Descobri nestes últimos anos, que não só eu tive o privilégio de conhece-lo, no meio radialístico fez muitos amigos, muitas pessoas tem por ele carinho e admiração. Não lembro de uma única vez em que estivesse triste. Não tive a oportunidade de estar com ele e a sua irmã no falecimento de seus pais em diferentes ocasiões, talvez então tivesse presenciado um momento seu de tristeza, nesse momento lamento não ter estado com ele.

Minha vida seria diferente por certo se não o tivesse conhecido, fará falta, já faz, penso que isto também se deu com outras pessoas, tinha um astral elevado. Não tinha ruim para ele, estava sempre pronto para qualquer coisa. Haviam planos para futuros encontros, mas sua morte precoce … uma puta sacanagem!

Vulgo Bola Sete, sempre rindo, sempre feliz.

Nunca o vi queixar-se, tenho pra mim que o Bola viveu a vida que desejava. Era capaz de andar 200 km – ida e volta – apenas para comer pastéis, não conheço outro que faria nada parecido. Ele era assim para tudo aquilo que desejasse fazer.

Mais que amigo, Alexandre era um ser iluminado, creio que por este motivo não sofreu, a vida logrou a morte. Agradeço aos céus por tê-lo conhecido, enquanto tiver sanidade vou lembrar dele com alegria, penso que não admitiria ser lembrado de outra forma.

Foi um orgulho tê-lo em minha trajetória de vida.

… das criaturas.

Acho que você já sabe o que fazer se não aparecer a figura... ok, vá lá, tecle F5.

Dia desses uma ex-amiga – sinto-me a vontade em escrever isto, já que saiu do meu perfil do feissibuqui – criticou-me duramente, em meio a uma discussão sobre um mal entendido, e entre outras coisas escreveu-me a seguinte frase: “… pois é, tem que ter cuidado. O mundo não está tão pronto assim”.

Confesso que fiquei extremamente aborrecido com a sua afirmação, mas a sua frase não foi apenas uma demonstração de indignação, ela trazia consigo o anúncio do fim de uma amizade de longa data. Bem, ela fez a sua escolha, a mim cabe respeitar isto. E vou.

O que originou o fato foi uma discussão sobre preconceito. Fiz um comentário sobre algo que ela postou no feissibuqui, e foi interpretado por ela como preconceituoso, além de irônico e ainda por cima, complementou dizendo que tive falta de sensibilidade. Infelizmente nessa questão houve precipitação de sua parte; ela deduziu equivocadamente, baseada em suas vivências, um comentário que fiz, e influenciada por elas, terminou com nossa amizade.

Não vou detalhar muito mais sobre o acontecido, mas aproveito o fato para entrar em um assunto que muito me incomoda; a ignorância.

Hmmm, ok… a ignorância que gera o preconceito.



Ah, faz o mesmo que eu escrevi acima quanto a outra imagem, acredite dá certo!



Fiquei pensando na frase que a minha ex-amiga disse e várias perguntas me ocorreram, tais como; quando é que o mundo estará pronto para acabar de vez com o preconceito? O que é preciso para que isto aconteça? Quanto tempo mais passará até que as pessoas convivam bem umas com as outras, sem julgá-las preconceituosas? De quem na verdade é o preconceito, daquele que protege uma pessoa especial das possíveis admoestações a que virá sofrer por antecipação? Daquele que julga antecipadamente qualquer um que dela se aproxime, acreditando que todos terão os mesmos sentimentos de pesar, sarcasmo, ironia ou espanto? Daquele que esconde um doente mental do convívio de outras criaturas com medo do que irão dizer-lhes ou por acreditar que destratarão aquele que protege? Será que não percebem que seu excesso de zelo lhes deixa ainda mais vulneráveis e os condenam a viver menos felizes?

Naturalmente entendi o cuidado extremado dela, e certamente muitos concordarão com o que ela fez, mas esse tipo de raciocínio é o que perpetua e mantém o mundo “despreparado”.

Ela é tão culpada quanto quem quer manter afastados, os preconceituosos de fato, pelo seu pré-julgamento, mas há muitas pessoas como eu, que não veem a situação assim. Não havia nada demais no post que algum seu familiar publicou, não para quem não tem preconceito, ele me pareceu perfeitamente normal. O mais incrível nisto tudo, é que o comentário que fiz não foi nada demasiado, seria interpretado tranquilamente como uma brincadeira saudável, mas não por ela ou por pessoas que pensam como ela, porque naquele post havia uma pessoa (ou várias, não defini porque não reparei nisso) com deficiência. O pior é que só me dei conta de que se tratava de uma situação especial, porque ela me interpelou e fez menção ao manifestar seu excesso de zelo. Ela me julgou precipitadamente, sem sequer tentar entender que não havia maldade no que comentei.

São pessoas como ela que alimentam este tipo de comportamento. De fato há preconceituosos, mas há também aqueles que ao superproteger seus entes de uma ameaça nem sempre presente, tornam-na real, pois antecipam numa “defesa” excessiva, toda e qualquer aproximação, rechaçando qualquer tipo de manifestação e isto faz com que o preconceito se perpetue, já que acreditam que o mundo não está tão pronto assim.

Seria muito mais fácil deixá-los conviver com semelhantes ao invés de mantê-los afastados por conta de uma educação arcaica e retrógrada, e que dificilmente evoluirá, uma vez que o preconceito é ensinado dentro do lar. Cercear o convívio de pessoas deficientes em nada facilitará a sua percepção de mundo; a realidade como lhes chega é, e será sempre maquiada, pois vivem tentando apresentar-lhes um mundo que não existe, motivado pelo seu superprotecionismo, pelo preconceito que os faz julgar a todos preconceituosos.

E você amigo leitorinho, o que faria para ajeitar esta distorção? Como pensa a respeito desta situação? Você está do lado dos preconceituosos ou daqueles que acreditam que todos, menos você, são… Think about it!



Porque ela canta maravilhosamente bem, e também porque ainda tem fé no ser humano. Ninah Jo. AVA, enjoy!


EU NÃO VOU A COPA DE 2014, clicae.

Amigos eu ganhei…

19/04 – 22:33 h , hoje, Roberto Carlos comemora setenta anos. Em diversos lugares seu nome será lembrado; rádios tocarão suas músicas, fãs clubes se reunirão para alguma atividade qualquer. Provavelmente, em sua casa, se houver um (a) admirador (a) do rei, por certo não deixará passar este dia sem que faça algum comentário, e não duvido que você não receba de um contato seu uma mensagem que lhe lembre da passagem de seu aniversário. Não é de admirar, seu público é fiel e cativo.

Não sou seu fã, no entanto cresci ouvindo suas canções. Com sete anos, via eventualmente na televisão, um programa chamado Jovem Guarda. Não lembro exatamente em que canal isso passava em minha cidade, creio que foi na extinta tevê Piratini, mas sei que o programa era da tevê Record e que durou de 1965 a 1969, sob o comando do já então consagrado, Roberto Carlos, juntamente com Erasmo Carlos e Wanderléia.

Não vou aprofundar na vida do rei Roberto, deixarei para aqueles que sobejamente escrevem sua história.

A referência ao Roberto, além da humilde lembrança pela passagem do seu setentenário, é que algumas de suas músicas, estão incluídas na trilha sonora da minha história.

Minha mãe ouvia, além do original, versões de seus sucessos nas interpretações do Maestro Erlon Chaves, Paul Mauriat, Ray Conniff todosantodia, mas não tinha muito do que me queixar, afinal pouco ficava em casa. A despeito disso não havia lugar onde sua música não fosse tocada, portanto, mesmo que não gostasse muito, não podia evitar atrelar passagens de minha vida com algumas de suas músicas.

Deste tempo tenho um amigo, a bem da verdade o único amigo que possuo (peço desculpas aos “amigos” das redes sociais, mas acredito que até estes sabem do que estou falando), e tirando algumas diferenças, nos respeitamos. Conheço-o há uns quarenta e quatro anos. Na juventude ficamos afastados e parte da vida adulta também. Eventualmente nos víamos em algum lugar da cidade, mas nossas vidas familiares não tinham nada em comum, sendo assim nosso contato praticamente inexistiu neste período.

Cerca de cinco anos atrás nos reencontramos, e desde então nos vemos seguidamente. Interessante essa coisa de amigo, apesar de andarmos afastados muito tempo, nunca perdemos este vínculo. Não cabe aqui explicar o que é amizade, aqueles que realmente tem amigos sabem, e aqueles que têm dúvidas, bem, procurem o significado no dicionário.

Crianças costumam eleger ídolos, super heróis, personagens que lhes agradam em determinadas fases da infância para fantasiar uma vida que não é a sua. Eu fiz isto, e lembro que isto era bem comum no tempo em que eu era pequeno.

Desta dupla, eu era o Erasmo, meu amigo o Roberto. Para nós, Erasmo e Roberto não eram cantores/músicos, eram simplesmente personagens de filmes de ação, que também cantavam. E se davam bem e é o que a maioria dos meninos quer; “se dar bem”.

Tiravámos dos filmes situações que eram adaptadas na vida real e tudo não passava de ficção, já que acontecer era impossível.

Tínhamos inclusive namoradinhas, infelizmente nem sabiam que existíamos. Era um mundo a parte, mas apesar da ficção, havia sentimentos verdadeiros. Dividimos muito com nossas experiências, rimos, brincamos, sentíamos pesar pelas não conquistas, nos frustrávamos quando “nossas” namoradinhas (bem maiores é claro) arrumavam namorados verdadeiros. As músicas acentuavam as “perdas”, principalmente aquelas que remetiam a coisas tristes, como a letra de De tanto amor. Aqui um trecho do filme onde a música é tocada. É de chorar no cantinho.

Hoje, quando ouço uma destas canções, que me lembra da minha infância, não mudo a estação de rádio.

Foi uma fase importante da minha vida, onde a fantasia era a minha realidade. Ela superava as coisas ruins, as carências que eu tinha, supria as minhas necessidades. Não sou mais o Erasmo, aquilo durou alguns meses depois de termos visto o filme Roberto Carlos – A 300 km por hora.

Apesar da fantasia, a amizade verdadeira permaneceu, e por incrível que pareça, ele não faz parte dos meus amigos de rede social. Não está ali, mas está sempre presente. Assim como estão presentes todas as pessoas importantes na minha vida. Não preciso apontar, elas sabem que são importantes para mim.

Amizades verdadeiras não precisam constar em redes sociais. Elas te acompanham e independem de interagir. Dispensam tecnologia, preferem o telefone, o contato real, do que lembranças virtuais. Parece que o face anda querendo arrumar-me amizades, mas não é a quantidade que me importa, e sim a qualidade.

O rei Roberto tem o seu amigo, assim como eu tenho o meu. Não sei quanto tempo viveremos, mas espero que enquanto estiver vivo, possa honrar o amigo que eu tenho e as pessoas que mais prezo neste mundo. Aos demais o meu respeito.

A data realmente não importa, o que importa é a pessoa. AVA, enjoy!

P.s.: parabéns.